As mesmas pedras do passado

quinta-feira, 4 de novembro de 2010 ·


Recebi, nesta quinta-feira, mais um e-mail convocando o mundo à causa da iraniana condenada. Acredito em algumas convicções que tenho, e que me levaram a responder, de maneira simples e sincera.

[Complicado, e muito triste. É mais um rastro de algumas heranças vis.
...Mas a acusada nasceu no Irã, conhece os preceitos de seu país. E transgrediu esses preceitos.
E em 2006, aos 43 anos, foi condenada por adultério.
Logo, uma alegação cabível para uma não-execução seria a alienação total da acusada, que desconheceria o que vem a ser “adultério”.
Mas acredito que ela sabia do que se tratava - e dos riscos que corria - [com sensatez, deixemos de lado os desatinos amorosos, quaisquer problemas conjugais que não nos dizem respeito e sejamos razoáveis].

Acho horrível e indecoroso o atraso em que eles vivem.
Todavia, quando um país se mete em questões alheias, dá liberdade a que o invadido passe a invasor, e por aí vai. Já se metem no enriquecimento de urânio do país, agora querem interferir no código penal iraniano...

Ora, temos muitas desgraças sociais aqui no Brasil para serem resolvidas.
Mas não, as pessoas preferem se preocupar com as questões político-religiosas que originaram a preceituação constitucional daquele país.
Consternação à família, aos filhos.  E que se cumpra a lei iraniana. E que mudem essa lei, não é? E isso não é função do Ocidente que, aliás, já se intrometeu demais no que não devia, durante a história.

É apenas uma opinião, como tantas outras... transitória.
Só não é tão transitória quanto as marcas de sangue que lavam o solo iraniano todos os dias.
E o que dizer das outras? Sakineh Ashtiani é a primeira? O mais provável é que ela não seja a última.

Mas ao que tudo indica, os poderios políticos e a influência ocidental deixarão suas marcas na história, mais uma vez;
Pelo menos, na tentativa de uma interveniência que visa algo mais importante que a hegemonia econômica - a vida.
Mas não se deve esquecer os detalhes da história. O machismo do Oriente não nasceu ontem. E é improvável que morra amanhã.]



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E-MAIL ORIGINAL

De: Alice Jay - Avaaz.org [mailto:avaaz@avaaz.org]
Enviada em: quinta-feira, 4 de novembro de 2010 18:14
Para: JR.ALBUQUERQUE@GMAIL.COM
Assunto: Salvem a Sakineh - estão nos escutando!

É quinta-feira e a Sakineh continua viva. Um número surpreendente de 500.000 pessoas enviaram mensagens para governantes em um dia -- eles estão respondendo rapidamente, contactando diretamente o Irã! A nossa pressão está funcionando, mas precisamos continuar para mantê-la viva -- assine e encaminhe este alerta para seus amigos:

Caros amigos,
Hoje, Sakineh Ashtiani poderá ser morta pelas autoridades iranianas. Já a salvamos do apedrejamento e agora temos 12 horas para conseguir que as principais autoridades do mundo se mobilizem com urgência para impedir esta vergonhosa execução:
Hoje, Sakineh Ashtiani poderá ser executada pelo Irã.

Nosso protesto mundial impediu que Sakineh fosse apedrejada injustamente em julho. Agora temos 12 horas para salvar a vida dela.

Os aliados do Irã e as principais autoridades da ONU são nossa maior esperança: eles podem convencer o Irã do sério custo político desse assassinato de uma figura com alta exposição na mídia. Clique no link abaixo para enviar a eles um pedido urgente de mobilização e encaminhar este e-mail a todo o mundo. Você só gastará três minutos. A última esperança de Sakineh somos nós

http://www.avaaz.org/po/24h_to_save_sakineh/?vl

O caso de adultério de Sakineh é um trágico embuste cheio de violações de direitos humanos. Primeiro, ela foi condenada à morte por apedrejamento. Porém, o governo iraniano teve de anular a sentença depois que os filhos dela conseguiram gerar um enorme protesto contra o julgamento injusto; Sakineh não fala a língua usada nos tribunais e os alegados incidentes de adultério aconteceram após a morte do marido dela.

Em seguida, o advogado dela foi forçado a se exilar e a acusação conseguiu inventar uma nova queixa falsa que justificaria a morte de Sakineh: o assassinato do marido dela. Apesar de isso configurar um caso de “non bis in idem” (dois julgamentos pelo mesmo crime), pois ela já está cumprindo pena por suposta cumplicidade nesse crime, Sakineh foi torturada e exibida em rede de televisão nacional para “confessar” e acabou sendo julgada culpada. O regime já prendeu dois jornalistas alemães, o advogado e o filho de Sakineh, que tem corajosamente liderado a campanha internacional para salvar a mãe. Todos continuam na prisão. O filho e advogado de Sakineh também têm sido torturados e estão sem acesso a advogados.

Agora, ativistas de direitos humanos iranianos afirmam que acaba de ser emitido um mandado de Teerã para executar Sakineh imediatamente. Ela está na lista e hoje é o dia da execução.

Campanhas persistentes fizeram o Irã anular a sentença de apedrejamento de Sakineh e atraíram a atenção de dirigentes de países que exercem influência sobre o Irã, como a Turquia e o Brasil. Agora, vamos todos erguer nossas vozes com urgência para impedir que Sakineh seja executada e sofra tratamento desumano e para libertar a própria Sakineh, seu filho e advogado e os jornalistas alemães. Envie uma mensagem para divulgar este pedido de emergência com amigos e familiares:

http://www.avaaz.org/po/24h_to_save_sakineh/?vl

Um grande protesto público tem a autoridade moral para impedir crimes atrozes. Vamos usar as 12 horas que temos para enviar uma mensagem clara: o mundo está de olho no Irã e todos estamos unidos para salvar a vida de Sakineh e contra a injustiça em qualquer lugar do mundo.

Com esperança e determinação,

Alice, Stephanie, Pascal, Giulia, Benjamin e toda a equipe da Avaaz

Fontes:

Parlamento europeu elogia adiamento da execução de iraniana:
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4770433-EI8142,00-Parlamento+europeu+elogia+adiamento+da+execucao+de+iraniana.html

França critica Irã por condenação de Sakineh Ashtiani:
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4768877-EI8142,00-Franca+critica+Ira+por+condenacao+de+Sakineh+Ashtiani.html

Dilma condena apedrejamento da iraniana Sakineh:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/11/03/dilma-condena-apedrejamento-da-iraniana-sakineh-337843.asp

Petição para impedir a execução eminente de Sakineh Mohammadi Ashtiani (em inglês):
http://www.guardian.co.uk/world/2010/nov/03/sakineh-mohammadi-ashtiani-execution

3 comentários:

Patricia Castagna disse...
4 de novembro de 2010 às 23:26  

Isso nos faz pensar na RESPONSABILIDADE pelo que é nosso de fato. Seu texto realmente faz a gente pensar nisso, que cada um é responsável por si mesmo e cada povo pela sua nação, pelo seu país, pela sua bandeira. Se temos hoje no Brasil uma certa "liberdade" de expressão, de comportamento, de ir e vir, é porque existiram movimentos sociais movidos por classe menores e rejeitadas. Houveram lutas, houveram guerras, houveram reivindicações de pessoas que queriam conquistar seu espaço e seus direitos.
Então temos o que é nosso de direito, porque conquistamos.
Pois então, eles que se movam lá, que lutem, que façam movimentos sociais, essas mulheres tão reprimidas que se revoltem e façam acontecer de um jeito ou de outro, oras!!!!!
E ainda há muito o que fazer aqui no Brasil, mas isso deixe para que os BRASILEIROS façam. Já é tão difícil lutar por nós, o que dirá lutar pela liberdade de outros.
GRANDE ABRAÇO.
ADOREI O TEXTO.

jairo rangel disse...
5 de novembro de 2010 às 11:03  

olha merecia capa de jornal essa sua colocaçõa maigo, primeira vez que venho em seu blog, é uma das melhores explanações sobre o assunto encontrei aqui, forte abraço e sucesso.

Lívia Azzi disse...
6 de novembro de 2010 às 19:59  

Olá Albuquerque!

Gostei do seu estilo de escrita, do layout do blog e das indicações dos seus livros e filmes favoritos no perfil.

Sobre sua critica, deixo meu posicionamento:

Ainda que esta seja a cultura, a lei, a política e valores iranianos, o mundo volta o seu olhar para a defesa da vida. A indignação e estranhamento que pairou aos quatro cantos se deve as causas e as razões para condenarem e punirem como fazem, pois existem muitos bons motivos para que determinada decisão seja tomada de outro modo. Em pleno século XXI, o mundo pára para se posicionar por questões que datam mais de 2000 anos atrás, como você apontou: "um atraso horrível e indecoroso". Não podemos nos banalizar com situações lastimáveis nem aqui e nem lá, mas estranhar e indagar sobre os bons motivos no qual um fato vigente é interpretado e legitimado, seja ele qual for e esteja onde estiver.

Um abraço!


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Espaço de conteúdo [basicamente] acadêmico. Ainda em construção, este blog publica textos entregues em trabalhos da faculdade, além de pensamentos e comentários do próprio autor. A intenção é justamente essa: que você leia e critique. Que você goste ou não. Dividem a responsabilidade comigo os que comentam neste espaço.

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