Pausa para Prosa

domingo, 13 de dezembro de 2009 ·








O amanhã de ontem



Machuca-me, tortura-me, despreza-me
traz-me o vislumbre da realidade...
Ofusca-me a esperança, no estiar dos tormentos,
deixa-me a estigma na alma...
torna seca a folhagem de meus arvoredos,
produz-me o choro virtuoso, na virtuose da tristeza
em suas virtudes...
Pequenos grandes instantes
Grandes pequenos momentos
Vicissitude ralhada...
Leva-me a contornar o inexistente
Faz inexistentes os contornos
Torna incontornável a existência
Produz o existir da cólera
Traz a cólera da existência
Esse dia, ah, esse agora...
Faz-me provar nos lábios o gosto das lágrimas
Faz-me enxergar o livreco que represento
ante os livros da história, na história dos livros, ante a história dos outros...
Faz-me nu, ante a riqueza alheia
Avilta o amor que abrigo no peito,
Leva-me ao monte, ao calvário,
Crucifica-me o dia todo;
Deflagra o meu caos.
Degenera o meu pudor, macula meus olhos
Torna-me delinqüente, inconseqüente de mim mesmo,
leva-me à lua, a mostrar-me a “independência” de um astro iluminado;
Conduze-me ao sol, no infortúnio de levar-me a perceber que não possuo grandeza alguma ante a quinta arte e soberania desse astro;
Faz-me abstrato, transparente, translúcido, opaco
Suja-me a face, lança-me no ocaso;
Revela meus erros, todos eles;
Faz-me sofrer, eterniza a angústia
Angustia essa efêmera eternidade...
Amarra-me e corta-me os pulsos,
Lança-me no porão dos mártires,
na masmorra da tristeza incoerente,
deleitada na controvérsia da experiência...
E nesse oceano de tristezas incertas e de incertezas tristes,
me atraca ao pelourinho,
a fim de castigar-me por causa dos meus sonhos...
Torna minha poesia muda, e surda à realidade;
Faz-me eu mesmo. Apenas eu. Apenas isso.
Esse instante. Só isso.
Mostra-me ser filho do ontem e pai do amanhã;
Primo do passado,
Irmão incestuoso do futuro.
É hoje, só isso.



Do que vale a poesia, se minha prosa não tem valor?


4 comentários:

Catiaho Reflexod'Alma disse...
13 de dezembro de 2009 às 19:20  

Lindo texto, profundo.
Leio com calma...
vou refletir
por um pouco mais.
Volto depois...
bjins entre sonhos e deírios

Natália Possas disse...
13 de dezembro de 2009 às 21:40  

Estou começando também... fiz o blog pra aprender, ler mais, escrever mais...

Qto ao seu poema... lindo, denso, diz tanto. As frases gritam e expressam muito, através de suas palavras fortes.

Catiaho Reflexod'Alma disse...
13 de dezembro de 2009 às 23:23  

Deixe uma observação pra vc la no blog.
bjins

Catiaho Reflexod'Alma disse...
13 de dezembro de 2009 às 23:25  

Ah sim,
esqueci de dizer que seu blog
é muito interessante e instrutivo pra mim.
Viu?


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Espaço de conteúdo [basicamente] acadêmico. Ainda em construção, este blog publica textos entregues em trabalhos da faculdade, além de pensamentos e comentários do próprio autor. A intenção é justamente essa: que você leia e critique. Que você goste ou não. Dividem a responsabilidade comigo os que comentam neste espaço.

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